Durante a Cimeira dos Movimentos de Libertação da África Austral, que decorre em Kempton Park, África do Sul, o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, defendeu um regresso aos valores fundacionais das lutas de independência, apelando a uma reforma profunda na forma como os partidos históricos da região se relacionam com os cidadãos.
O encontro reúne formações como a FRELIMO (Moçambique), ANC (África do Sul), ZANU-PF (Zimbabué), CCM (Tanzânia) e MPLA (Angola), num contexto em que estes movimentos enfrentam crescentes desafios de liderança e legitimidade popular.
Segundo O País, Chissano alertou para sinais de desgaste nas instituições democráticas e criticou o distanciamento entre os partidos e as populações, apontando falhas como a apropriação de recursos públicos por interesses privados, a intolerância à crítica e a exclusão de jovens e mulheres dos processos de decisão.
“Em nome da estabilidade, fechámos espaços de renovação. Em nome da continuidade, não criámos espaço para a participação ativa dos jovens”, afirmou.
O antigo estadista moçambicano defendeu ainda que os mecanismos de governação devem ser atualizados para acompanhar os avanços tecnológicos e as exigências sociais contemporâneas. Sublinhou que a cooperação regional é um trunfo a ser aproveitado e que o foco deve permanecer na melhoria da vida das populações.
“Não é que tenhamos outro povo. Temos de nos lembrar que nascemos do povo e devemos permanecer com ele”, disse Chissano, apelando a uma reaproximação entre os líderes e os seus eleitores.
A cimeira deste ano tem como prioridade a busca de soluções coordenadas para a crise económica que afeta vários países da região. Moçambique participa com uma delegação liderada pelo Secretário-Geral da FRELIMO.