A consultora Oxford Economics vê na promessa do Qatar de investir mais de 100 mil milhões de dólares em países africanos, incluindo Moçambique, que o continente “continuará no centro das atenções” dos investidores.
“O Qatar está a pressionar para consolidar a sua presença em África, com uma série de acordos assinados pela Al Mansour Holdings em todo o continente, mas pouco se sabe sobre a sua implementação; a escala e a amplitude desses investimentos reafirmam a nossa opinião de que África continuará no centro das atenções, à medida que nações de todo o mundo disputam a liderança”, escreve a Oxford Economics, numa nota divulgada hoje.
Num comentário aos investimentos anunciados pela Al Mansour Holdings em vários países do continente, incluindo 20 mil milhões de dólares em Moçambique, os analistas do departamento africano desta consultora britânica afirmam que a promessa de investimentos surge não só num contexto de mudança de paradigma, mas também de uma alteração na política internacional.
“África continua a desenvolver-se e a agregar valor internamente, mas o antigo paradigma de um continente geologicamente rico que exporta matérias-primas ainda se mantém; o impulso de investimento do Qatar em África surge num momento crítico para várias economias e promete impulsionar a aceleração dos esforços de diversificação nas nações dependentes de recursos”, escreve a Oxford Economics.
Ainda assim, acrescenta, “o momento também é igualmente importante, já que a incerteza global intensificou-se no segundo mandato do presidente Donald Trump, com o aumento do protecionismo e das tarifas dos EUA e a redução dos fluxos de ajuda, levando os Estados africanos a procurar parceiros alternativos”.
Na análise aos investidores e a que a Lusa teve acesso, com o título ‘Catar faz safari de investimento’, os analistas argumentam que o capital dos países do Golfo Pérsico “não serve apenas como um impulso ao investimento, mas também como um contrapeso geopolítico, oferecendo a África uma proteção contra a retração ocidental e, ao mesmo tempo, dando ao Catar e aos seus vizinhos do Golfo maior influência”.
O objetivo do Catar, concluem, é “reduzir a sua dependência dos hidrocarbonetos, garantindo acesso de longo prazo a alimentos, minerais e mercados estratégicos” que são particularmente mais acessíveis em países subdesenvolvidos, como Moçambique, Zimbabué, República Democrática do Congo ou o Burundi.
O Governo moçambicano e o conglomerado Al Mansour Holding, sediado no Qatar, assinaram na terça-feira, em Maputo, um acordo de cooperação estratégica de 20 mil milhões de dólares para ser aplicado em várias áreas económicas e sociais, que se junta a outros em vários países africanos, num total de 103 mil milhões de dólares, mais de 88 mil milhões de euros.
De acordo com uma nota da presidência moçambicana, “o acordo de 20 mil milhões de dólares abrange um vasto leque de áreas prioritárias”, nomeadamente agricultura, pecuária, pescas, petróleo e gás, energias renováveis, construção de estradas, caminhos-de-ferro e centros logísticos, bem como a edificação de habitações sociais e unidades hospitalares.
“O acordo contempla também investimentos no setor social e turístico, com a construção de habitações de interesse social, escolas, hotéis e resorts, além de projetos costeiros sustentáveis”, concluiu a Presidência de Moçambique.
À margem da assinatura do acordo de cooperação, em Maputo, o Sheikh Mansour Al Thani, representante da Al Mansour Holding e membro da família que governa o Qatar, afirmou: “As nossas duas regiões estão unidas pela história, cultura e fé. Mas hoje, mais do que nunca, estamos unidos por um destino comum: transformar a riqueza natural das nossas terras e os talentos do nosso povo em motores de desenvolvimento que perdurarão por gerações”.
Fonte: Lusa Moçambique