Kenmare sem acordo para manter-se em mina moçambicana de titânio oito meses depois

Partilhar

A mineradora Kenmare divulgou hoje que mantém negociações com o Governo moçambicano para renovar o acordo de exploração de Moma, das maiores minas mundiais de titânio e zircão, ainda sem entendimento, oito meses após o terminar o anterior.

“A Kenmare confirma que continua em negociações com o Governo de Moçambique e que os termos finais para a renovação ainda não foram concluídos. As operações em Moma continuam normalmente e não foram afetadas pelas discussões”, lê-se numa informação da mineradora aos mercados, consultada pela Lusa, negando desta forma notícias sobre já ter fechado um novo Acordo de Implementação (AI) de Moma.

Acrescenta, na mesma informação, que “vem conduzindo o processo de prorrogação junto ao Governo de Moçambique desde o final de 2022” e que está a “dialogar com o Governo sobre possíveis alterações” ao AI que terminou no final do ano passado.

“Embora a data de expiração original fosse 21 de dezembro de 2024, o Ministério da Indústria e Comércio confirmou que os direitos e benefícios existentes da Kenmare permanecem em pleno vigor e efeito, aguardando a conclusão do processo de prorrogação”, lê-se ainda.

A mineradora australiana recorda que o AI é um acordo firmado em 2002 entre a Kenmare e o Governo de Moçambique, estabelecendo os termos sob os quais conduz as atividades de processamento e exportação de minerais, que lhe concedeu “direitos e concessões por um período inicial até dezembro de 2024, com direito de prorrogação por mais 20 anos”.

Em março deste ano, o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, empossado em janeiro, afirmou que vai renegociar os contratos dos megaprojetos que exploram os recursos do país, alegando que 20 anos depois, Moçambique já não é o mesmo ou pensa da mesma forma.

“Moçambique já não é o mesmo de há 20 anos. Nem somos a mesma quantidade de pessoas, nem pensamos da mesma forma, nem temos os mesmos objetivos, nem temos os mesmos interesses. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e mudam-se também os desafios”, disse o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas, apontando, como exemplo, a exploração da própria Kenmare.

Daniel Chapo reuniu-se depois, em 13 de junho último, em Maputo, com o diretor-executivo da Kenmare, para discutir o futuro dos investimentos daquela empresa no norte do país.

“Tivemos a oportunidade de reunir com o Presidente hoje para discutir a história do investimento da Kenmare em Moçambique e o nosso futuro plano de investimento, bem como as nossas estratégias para continuar a investir no país nas próximas décadas”, disse o diretor-executivo da Kenmare, Tom Hickey, após a reunião.

A australiana Kenmare está em Moçambique há mais de 30 anos e explora a mina de Moma, uma das maiores produtoras mundiais de titânio e zircão, localizada na província de Nampula.

“Acreditamos que a parceria entre a Kenmare e Moçambique tem sido boa e vamos procurar renová-la nos anos que se aproximam (…) o Presidente foi muito aberto (…) e ele percebe o nosso negócio. Já trabalhou em Nampula e conhece a nossa mina e ja a visitou. Então tem boa perceção sobre a importância do que nós fazemos e a natureza do nosso investimento”, acrescentou Tom Hickey.

Em 2024, os lucros da Kenmare recuaram 50%, para 64,9 milhões de dólares (60,2 milhões de euros), anunciou anteriormente a mineradora australiana numa informação aos mercados.

A informação da mineradora acrescentava então que a receita com os produtos de Moma caiu 10% em 2024, para 392,1 milhões de dólares (363,2 milhões de euros), “devido a uma redução de 14% no preço médio recebido pelos produtos da Kenmare, parcialmente compensado por um aumento de 4% nas remessas”.

A empresa é uma das maiores produtoras mundiais de areias minerais, cotada nas bolsas de Londres e Dublin, sendo que a produção em Moçambique representa aproximadamente 7% das matérias-primas globais de titânio, com clientes em mais de 15 países, que usam os seus minerais pesados em tintas, plásticos e cerâmica.

Fonte: Lusa Moçambique