A Mozal, maior indústria de Moçambique, rescindiu contratos, de forma “súbita”, com cerca de 20 empresas, deixando pelo menos mil desempregados, após avançar a possibilidade de encerrar atividades em 2026, revelou hoje a Confederação das Associações Económicas (CTA).
“Esta declaração [da possibilidade da Mozal encerrar em 2026] foi seguida da rescisão súbita de contratos com cerca de 20 empresas moçambicanas fornecedoras da Mozal, afetando diretamente cerca de 1.000 postos de trabalho e colocando em risco a continuidade de empresas com décadas de colaboração ininterrupta com a fundição”, disse o presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Álvaro Massingue.
A Mozal, que tem cerca de 5.000 trabalhadores na segunda maior fundição de alumínio em África, nos arredores de Maputo, anunciou em agosto que pretende cortar no investimento e dispensar empreiteiros contratados, mantendo apenas a operação até março de 2026, quando termina o contrato de fornecimento de eletricidade, alegando não ter condições de continuidade.
Numa informação ao mercado, o grupo australiano South32, que lidera a unidade, disse que tem dialogado com o Governo moçambicano, a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB) e a sul-africana Eskom – que compra a eletricidade da HCB e a vende à Mozal – “para garantir o fornecimento de eletricidade suficiente e acessível” para “permitir operar para além de março de 2026, quando o atual contrato [de fornecimento de energia] expira”.
Em conferência de imprensa hoje, em Maputo, os patrões moçambicanos consideraram “inadmissível que uma empresa que tanto beneficiou do ambiente fiscal, institucional e económico nacional adote uma postura que desestabiliza o tecido empresarial moçambicano e fragiliza a confiança dos investidores”.
O presidente da CTA, que congrega o setor privado, disse que, para evitar o encerramento das atividades desta indústria, a Confederação “entende que o Governo pode considerar concessões na tarifa de energia, mas apenas com contrapartidas claras e estruturantes para a economia nacional”.
“Esta crise pode e deve marcar um ponto de viragem. Não é momento de abandonar a Mozal”, afirmou Massingue.
O impasse entre a Mozal e o Governo na renovação dos contratos para o fornecimento de energia permanece, com os empresários a pedirem ao Governo para reavaliar o pedido da empresa, mas sugerindo que pelo menos 40% da produção seja destinada a empresas baseadas em Moçambique, para transformar o alumínio localmente em produtos semi-manufaturados e acabados, dinamizando a industrialização.
A CTA quer também que o novo acordo aumente o número de empresas locais a prestar serviços a Mozal para beneficiar cada vez mais as pequenas e médias empresas, defendendo que “as decisões sobre o futuro da Mozal devem refletir os interesses do país e do seu setor produtivo”.
Em 22 de agosto, o Governo moçambicano considerou “extremamente baixa” a contribuição fiscal da maior indústria moçambicana, a Mozal, manifestando interesse em avançar com uma revisão das suas obrigações neste domínio.
A Mozal compra quase metade da energia produzida em Moçambique e tem um peso estimado de pelo menos 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em 18 de agosto, o Presidente moçambicano afirmou que as tarifas de energia propostas pela Mozal, maior indústria moçambicana, levariam ao colapso da HCB, reagindo à ameaça de encerramento da unidade de fundição de alumínio em 2026.
O fornecimento de eletricidade à Mozal é feito através da sul-africana Eskom, que por sua vez compra energia à HCB – 66% do total produzida em 2024 -, que funciona no centro de Moçambique, mas o Governo moçambicano pretende reverter este cenário.
A Lusa noticiou em fevereiro de 2024 que o Governo moçambicano pretende repatriar a partir de 2030, para uso doméstico, a eletricidade que exporta da HCB para a África do Sul desde 1979, conforme consta da Estratégia para Transição Energética em Moçambique até 2050.
Fonte: Lusa Moçambique