Tribunal moçambicano ordena venda de activos da antiga gigante do algodão Plexus

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O Tribunal Judicial de Cabo Delgado já iniciou o processo de venda em hasta pública dez conjuntos de edifícios da antiga Plexus, que foi das principais empresas de exploração de algodão em Moçambique, esperando arrecadar cerca de 500 milhões de meticais.

Em causa está o processo de insolvência da Plexus, detida anteriormente por um grupo britânico e cuja atividade foi interrompida em 2022, deixando milhares de produtores de algodão de Cabo Delgado sem poder escoar o produto, além de avultadas dívidas, segundo o plano de recuperação divulgado no ano seguinte, de 515 milhões de meticais.

O grupo britânico apontou os prejuízos provocados por sucessivos ciclones que afetaram a região e o impacto da violência armada em Cabo Delgado para justificar um desempenho financeiro em deterioração desde 2016 e o fim das operações em 2022.

Estima-se que cerca de 200 trabalhadores ficaram com ordenados em atraso e que 50 mil produtores de algodão em Cabo Delgado estejam desde 2022 em dificuldades para escoar a matéria-prima, que até então entregavam à Plexus.

Em 2023 foi anunciado um acordo com a portuguesa Felpinter, para passar a gerir o negócio local de algodão, incluindo duas unidades de processamento com capacidade para 45 mil toneladas por ano.

No edital do processo de venda, que arranca hoje, está prevista a venda de dez conjuntos de edifícios, em várias localidades de Cabo Delgado, que integravam os ativos da antiga marca, totalizando o valor base de 488,8 milhões de meticais.

Em 2023, o Tribunal Judicial de Cabo Delgado revelou, que das dívidas conhecidas, 95% foram contraídas pela Plexus junto de quatro bancos: Moza Banco, BCI, Access Bank e Société Générale.

O Moza era então credor de 197 milhões de meticais (2,7 milhões de euros), o BCI de 127 milhões (1,7 milhões de euros), o Access de 110 milhões (1,5 milhões de euros) e o Société Générale de 58 milhões (813 mil euros).

Além dos bancos, estavam identificados 3,4 milhões de meticais (cerca de 48 mil euros) de salários que ficaram por pagar, sendo o resto da dívida ao fisco e segurança social.

As exportações de algodão, das principais culturas de rendimento de Moçambique, garantiram 120,9 milhões de dólares nos últimos cinco anos, mas caíram mais de metade em 2024, segundo dados oficiais noticiados pela Lusa em julho.

De acordo com um relatório da balança de pagamentos do Banco de Moçambique, as exportações caíram para 14,2 milhões de dólares em 2024, o valor anual mais baixo em, pelo menos, cinco anos.

De acordo com dados avançados em 2024 à Lusa pelo presidente da Associação Algodoeira de Moçambique (AAM), Francisco Ferreira dos Santos, o algodão em Moçambique representou uma média anual de 30 a 50 milhões de dólares em exportações nos dez anos anteriores, sendo uma cultura tida como essencial: “Tem uma cadeia de valor enorme (…) é uma cultura quase que sagrada, com um efeito catalisador na economia e na demografia”.

Moçambique representa menos de 0,5% da produção mundial de algodão, num mercado liderado por países como Estados Unidos, China ou Índia.

A produção de algodão em Moçambique cresceu 2% em 2024, face ao ano anterior, para 24 mil toneladas, mas falhou as metas definidas para o setor, segundo dados do Ministério das Finanças sobre a execução orçamental.

A produção de algodão, uma das culturas de referência do país, ficou aquém das 40 mil toneladas previstas, cumprindo apenas 60% da meta, embora acima das 23.516 toneladas de 2023.

A área de produção de algodão em Moçambique cresceu de 95.097 hectares em 2023 para 96.523 hectares no ano passado.

Fonte: RTP Notícias